Finalmente, acabou!! Esse é o meu último post sobre o programa de au pair neste site, 6 meses depois do fim do meu programa, mas de alguma forma achei que deveria escrever sobre a minha experiência e o que aprendi ao final de dois anos com a mesma família, mesma rotina, mesma cidade e com uma pandemia no meio.

Antes de tudo, quero deixar claro que recomendo, fortemente, o programa. Se não fosse pelo programa eu não teria vivido tanta coisa, não teria visto tantos lugares incríveis e, principalmente, não teria alcançado o nível de inglês que sempre quis ter. É um programa cheio de defeitos, com altos e baixos, mas que eu olho pra trás e não me arrependo de ter feito.

Dito isto, aqui vai uma listinha de apredizados (dicas?) depois da minha aposentadoria de au pair.

  1. A Host Family: A lição mais valiosa desse programa é, e sempre vai ser, “Seu intercâmbio depende 70% da família que você escolhe”. Não, eu não tô mentindo. Sim, tem família legal em todo lugar, mas também tem muita família ruim, que vai destruir o teu psicológico e te fazer passar o pão que o diabo amassou. Por isso que quando uma ex-au pair te disser “vai pela família e não pelo lugar” você pensa direitinho nisso. De que adianta morar em Nova York com uma família que não tem nada a ver com você e destrói o seu psicológico? Busquem famílias que tenham princípios alinhados com os seus, que tratem as pessoas da forma que você quer ser tratada. Tive muita sorte em encontrar uma família boa e bem localizada, mas muita gente tem experiências com famílias incríveis em cidades não muito atrativas;
  2. Au pair não é família: Todo mundo sabe que eu sempre amei minha host family e que eles sempre me amaram e respeitaram desde o dia que cheguei, sempre tivemos uma relação bem amigável, mas nem por isso eu me enganei achando que eu era família deles e eles eram minha família. Pelo contrário, sempre tive consciência que qualquer vacilo meu ou qualquer feriado que eles não quisessem cuidar dos filhos, eles esqueceriam que eu era “parte da família”. A regra é clara, pessoal, au pair não é família e quando eles disseram que é, você sorri/acena e cuida da sua própria vida;
  3. Não vem sem carro: Com excessão das grandes cidades como Chicago, San Francisco, Nova York, Boston onde você não vai precisar de carro porque o transporte público funciona, pra todo o resto você vai precisar de carro. Sempre vai ter o “Ah, mas a família oferece dinheiro pra uber” gente, uber é caríssimo, a não ser que a família pague integralmente todos os seus ubers, não faça isso!! Eu não dirigi nos meus primeiros seis meses aqui e o tanto de dinheiro que gastei com uber, eu poderia ter viajado…Se não for cidade grande, o transporte público é ruim e você vai perder mais tempo esperando ônibus do que aproveitando o seu valioso tempo off;
  4. Não vem com inglês básico: Essa é uma questão que sempre rola entre as futuras au pairs “ah, mas eu posso ir sem nada de inglês ou com inglês básico?” Gente, não tô dizendo pra falar inglês fluente antes de vir, até porque ninguém vem cuidar de criança por paixão, a gente vem pra melhorar o inglês mesmo, mas quando você chega aqui com inglês zero/básico você coloca em risco a vida de crianças que estarão sob a sua responsabilidade. Imagina um acidente e você tá sozinha com a criança e precisa ligar pra emergência? Já vi acontecer com muita menina pelos grupões da vida, nunca aconteceu uma emergência comigo, mas logo que cheguei, minha bebê caiu e eu, que considerava meu inglês intermediário-avançado, não sabia explicar como a menina tinha caído e tive que procurar no google, imagina se fosse algo mais sério…
  5. Guarde dinheiro: Quando a gente chega aqui é muito fácil ficar deslumbradxs com a facilidade de comprar que esse país te proporciona e além de gastar tudo comprando umas blusinhas, a gente ainda se põe em uma situação delicada em caso de emergências. Guarde dinheiro, tente não se empolgar muito nas lojinhas e guarde o máximo que puder, seja pra mudar de status depois do programa, voltar pro Brasil ou usar em uma emergência. Ao final do meu programa, consegui guardar US$7.000 e foi o que me ajudou durante a transição de sair da casa da host family pra começar a minha própria vida;
  6. Não venha para trabalhar aos finais de semana: Uma coisa que fez muita diferença durante o meu programa foi que, desde o principio, eu não trabalhava finais de semana e a minha host family tinha muito claro que se um dia eles quisessem mudar isso eu iria embora. O final de semana off é tudo pra sua saúde física e mental quando você mora no seu trabalho;
  7. Peça os feriados nacionais off: Sim, gente, venham com a garantia de que vocês terão os feriados nacionais off. O contrato de au pair não diz nada sobre feriados, só diz que você pode trabalhar 45 horas por semana e claro que a host family não é boba nem nada, né? No meu primeiro ano de au pair, minha host family me botou pra trabalhar em TODOS OS FERIADOS NACIONAIS e eu trabalhei com ódio no meu sangue, mas pro meu segundo ano eu falei que só renovaria com eles se me dessem todos os feriados e fiz eles mandarem um e-mail com a lista de feriados que eu estaria off.
  8. Aproveite o seu intercâmbio: Como au pair, a gente reclama muito sobre morar com host family, cuidar de criança e isso e aquilo, mas a real é que o au pair é uma mão na roda porque bem ou mal, mesmo ganhando uma miséria (sim, US$200 não é nem de longe o que a nossa mão de obra vale e não, não dá pra luxar com isso) a gente não precisa se preocupar com a vida adulta por um ou dois anos, ou seja, não precisa se preocupar com contas de casa, aluguel, carro e, dependendo da host family, às vezes vc não compra nem os seus próprios itens de higiene pessoal. Então, aproveite, faça o máximo de roadtrips, passe perrengue com as amigas, aproveite os cupons e tudo mais porque quando a mamata da host family acaba, a vida adulta , seja no Brasil, aqui ou em qualquer outro lugar, vem numa velocidade que se você não estiver preparada vai doer;
  9. Negocie benefícios para a sua extensão: Antes de acabar o meu primeiro ano, eu já sabia que queria ficar com a mesma família pra minha extensão, mas eu aprendi que quando chegamos, somos completamente inocente e que se a gente deixar eles montam nas nossas costas mesmo então pra extender com a mesma família eu pedi aumento de US$ 50 por semana e todos os feriados nacionais off. Mandei uma lista pra eles e disse “esses são os feriados que eu quero off e eu quero também US$ 50 de aumento por semana”. Minha host family não queria abrir mão de mim (e a maioria não quer e está disposta a negociar), mas se eles não aceitassem eu ia atrás de família com rotina mais fácil ou que ao menos estivesse disposta a me dar o que eu estava pedindo. Acredite, dificilmente os pais querem se dar aou trabalho de trazer uma nova pessoa pra dentro de casa e passar pelo processo de readaptação e blá blá blá…
  10. Decida você mesma sobre a sua extensão: Eu, Larisse, conheci muita menina que me olhava e dizia que eu não era inteligente por ter extendido com a mesma família, que deveria ter feito um ano de au pair na Califórnia e outro ano em Nova York como muita gente prega por aí. Conheço muita gente que fez isso e foi feliz e eu, que nunca quis morar em nenhum outro estado, que nunca me senti bem vinda em nenhum outro estado que visitei, decidi ficar no mesmo estado, com a mesma família e com a mesma rotina e digo com tranquilidade que não me arrependo. Tive dois anos muito bons, minha host mom e minhas crianças eram tudo pra mim e vivi a melhor experiência que poderia viver no programa. Acho que a dica aqui é que só você sabe da sua vida, se você tá confortável onde você está e quer ficar, não deixa uma outra pessoa colocar coisas na sua cabeça.

É ISTO, GENTE, DOBBY HAS NO MASTER, DOBBY IS FINNALY FREE!!

(Pra quem não sabe, nós, au pairs, nos denominamos Dobby, porque somos os elfos domésticos das host families. Bom, se você não sabe quem é Dobby, volte duas casas)

Foi bom, foi ruim, mas valeu à pena!! Seguimos pra mais aventuras :p