First of all: Se você pensa que couchsurfing é uma rede social para pessoas solteiras que viajam o mundo e só estão atrás de pegação e por isso quer fazer parte, sinto decepcioná-lo, mas talvez seja melhor você baixar o tinder ou ir pra um hostel, o couchsurfing é muito mais que isso e na maioria dos casos, você pode se dar muito mal com essa ideia. Claro que existem essas pessoas na comunidade e você pode conseguir encontrar parceiros e até ficar com um host ou um surfer, mas não deve ser tão comum assim. Na minha experiência como menina, as meninas que viajam sozinhas sempre preferem meninas ou casais por já terem tido experiências de assédio, então fica esperto.

Couch, em inglês, quer dizer “sofá” e surfing significa “surfando”, dessa forma, Couchsurfing significa Surfando no Sofá. Essa é uma comunidade para viajantes que consiste em trocar hospedagens ao redor do mundo, algumas pessoas só oferecem e outras só querem se hospedar, mas existem muitos que fazem os dois 1. É importante ficar claro que no couchsurfing, o anfitrião não é obrigado a oferecer uma cama, um quarto privado, comida, internet e muitas outras mordomias de hotel. O anfitrião oferece o que tem, pode ser luxo, mas também pode ser o básico e acredite, as pessoas que estão no couchsurfing não estão procurando luxo, mordomias, as pessoas que estão no couchsurfing procuram economia – não sejamos hipócritas – e, acima de tudo, contato, conhecimento da cultura local, troca de experiências, dicas que só um local pode dar e claro, amigos.

Desde que entramos na comunidade, em junho de 2014,só tivemos boas experiências. Estamos há mais de dois anos recebendo pessoas e ainda não me acostumei com as despedidas, ás vezes eu fico alguns dias triste porque alguém foi embora, às vezes eu choro nas despedidas, mas ‘vida que segue’ e nas poucas oportunidades de reencontro que tivemos ficou a certeza de que fizemos amigos de verdade. Temos aprendido muito com a experiência de receber pessoas em casa e nos hospedarmos em casas de pessoas desconhecidas e, com isso, resolvi listar algumas das lições que aprendi para que os senhores conheçam essa comunidade maravilhosa que nos proporciona bons momentos com gente do mundo todo e que é muito mais do que hospedagem gratuita <3

1 – Aprender a conviver com a diversidade

A primeira coisa que você precisa aprender para ser um usuário ativo do couchsurfing é conviver com a diversidade. Aliás, nada a ver um viajante intolerante, não é mesmo? Recebemos pessoas de diversos países, Argentina, Bélgica, Singapura, Estados Unidos,  Espanha, Chile, Peru, Inglaterra e também do Brasil e também nos hospedamos no Brasil, no Chile, na Argentina, na França, na Bélgica, e em todas as vezes eram pessoas com estilos de vida diferentes.

Veganos, vegetarianos, algumas pessoas com muita grana e outras que estavam zeradas de grana e trabalhavam no sinal para conseguir reais, alguns queriam festas e muitas caipirinhas, outros dormiam muito cedo. Em todos os casos tanto eu quanto o Fernando precisamos aceitar as diferenças e extrair o máximo de coisas boas possíveis de cada um. Lembre-se de nunca impor o seu estilo de vida ao seu hóspede ou anfitrião, tem nem cabimento, né gente?

2 – Idiomas

A minha maior vontade de participar do couchsurfing sempre foi treinar o inglês e nosso primeiro hóspede foi justo um inglês, de Liverpool[foonote]cidade mais linda pois nasceu a melhor banda)[/footnote] que tinha um sotaque muito forte. Eu fiquei nervosissíma, pois nunca tinha falado inglês fora do cursinho e muito menos com um nativo, mas aí ele chegou e precisou comprar um tênis e eu não poderia dizer não, né? Passamos a manhã juntos e já entrei no táxi falando inglês e o taxista ficou me olhando, aí me toquei que o medo tinha passado.

É claro que eu ainda morro de vergonha de falar, mas receber a galera me ajudou muito com esse medinho de falar inglês e me ensinou muita coisa. Ah! outra língua que comecei a aprender foi o espanhol, claro que os dois mochilões ajudaram muito, mas receber a galera que fala espanhol em casa também ajuda porque fica praticando. Pretendo fazer um curso de espanhol em breve e parar de misturar português, espanhol e inglês na mesma conversa HAHA. Tá aí uma dica pra quem quer praticar, mas não tem a grana pra fazer o intercâmbio, tem gente do mundo todo, VAI!!

Edit: Usando o couchsurfing 2 tive a oportunidade de viver 3 meses no chile e finalmente aprendi espanhol, agora eu não misturo mais português, inglês e espanhol haha =)

3 – Culinária local

A Hilén e o Fred, argentinos, passaram o natal com a minha família e como eram vegetarianos, minha mãe se esforçou pra fazer um jantarzinho pra eles, mas o destaque da noite foi mesmo as empanadas que eles trouxeram pra ceia de natal. Dito isso, eu fui obrigada a pedir a receita e tem sido assim com quase todos os hóspedes, fico apaixonada por algum prato que eles fazem e peço a receita. Aliás, cozinhar com os hóspedes tem sido nossa atividade preferida como anfitriões. Jamais esqueci os eggs rolls que a Amanda, americana, a Eline ,que era belga, se apaixonou pelo brigadeiro, morro de vontade de fazer o arroz com limão e coco do Rajiv de Singapura e a Pilar e o Nico, chilenos, sempre lembram do almoço vegetariano de despedida que fiz pra eles antes de partirem.

Aprendi muitas receitinhas com todos os hóspedes e algumas marcaram. Um deles deixou vários temperos de presente pra nós, até hoje a gente coloca na comida e lembra das comidinhas que fazíamos juntos. A Barbara, da Bélgica,  me ensinou a fazer mais empanadas, dessa vez chilenas, e agora sou completamente feliz pois posso ter empanadas em casa, OBRIGADA BARBIE <3

4 – Dinheiro nenhum paga a experiência

Depois de tanta gente linda e legal que passaram por aqui ou que conhecemos no caminho, eu cheguei à conclusão de que dinheiro nenhum pagaria isso, fizemos muitos amigos, tivemos muitos dias lindos e divertidos com essas pessoas e muitos servem de inspiração pra nós, que sonhamos viajar esse mundão.

Nas vezes que fomos surfers poderíamos pagar um hostel, mas não teríamos tomado vinho e escutado Chico Buarque com o Ruben ou ainda tido aquele jantar maravilhoso com seus amigos lá no Fim do Mundo. Também não teria assistido Brasil vs. Colombia comendo bolo de cenoura com a família do Bruno lá no Acre.

Se o Francesco tivesse escolhido ir pra um hotel ao invés de ficar na nossa casa durante a Copa do Mundo não teríamos feito um amigo como ele e não nos reencontraríamos em São Paulo e muito menos conheceríamos sua família maravilhosa. Se Deivid não tivesse dormido no chão da nossa sala alguns meses atrás, eu não teria um amigo naquele final de tarde em Copacabana onde viajava sozinha, porque ele ia ser só mais um estranho passando por mim.

Se Pilar e Nico tivessem ido para um hostel, nós provavelmente teríamos ido para Valparaíso por motivos turísticos (apenas) e não teríamos tido alguns dias lindos em Valpo com guias exclusivos e cerveja na praia e muito menos admirado a vista do terraço da faculdade de direito de Valparaíso.

Todas esses momentos – e muitos outros – com pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes a nós, só foi possível porque nos tornamos ativos na rede e não estamos interessados única e exclusivamente na economia. Economizar é bom, mas fazer amigos, conhecer novas culturas, ter dias divertidos e compartilhar experiências tem sido muito mais importante que o dinheiro que economizamos.

Além disso, a sensação de estar ajudando alguém é muito legal, muita gente está viajando há muito tempo e está com a grana contada, então ajudar é sempre bom. Recentemente, comecei a aceitar somente meninas na casa dos meus pais e eles sempre fazem o possível pra fazer as amiguinhas se sentirem como se estivessem em casa, porque eles finalmente entenderam a forma como eu viajo e sempre imaginam “poderia ser minha filha”, e meu pai que nunca saiu do Amazonas parece que viaja junto com as pessoas, aprende mil coisas e faz amigos também, tem sido muito gratificante.

Bom, se você ficou interessado em participar do couchsurfing é só ir lá e criar um perfil, com o máximo de informações possíveis e procurar um host pra sua próxima viagem ou aceitar um surfer que tá vindo pra sua cidade. Lembrando que eu não posso dizer que é 100% seguro, existem riscos, mas tenta pesquisar sobre a pessoa, matém contato, procura o máximo de informações possível, facebook, e-mail, referencias na rede. Desde o meu primeiro momento na rede, eu procurava tudo sobre as pessoas, agora eu só vejo se tem referencias boas, se também recebe pessoas em casa e peço o facebook e nunca tive nenhum problema, o risco existe, mas viver é um risco, não é?


  1. eu, por exemplo

  2. e também outras plataformas que trocam trabalho por hospedagem