Fiz minha primeira viagem aos 18 anos, em 2012. Foram minhas primeiras férias do trabalho. Foi massa, foi legal, ainda lembro a emoção de encontrar o mar, o Rio de Janeiro. Mas confesso que naquela época não entendia muito o sentido de viajar. Pra mim, viajar era só sair de casa, conhecer outra cidade, conhecer os pontos turísticos, ver o que tinha de melhor na cidade, comparar, passear. Aos 18 anos, eu não tinha maturidade pra entender que esse verbo “viajar” não precisa só ser conjugado. Ele também precisa de complemento, ele precisa ser sentido, vivido.

Sentir e viver as viagens só passou a ser inesquecível de fato quando comecei a entender que não importa o local na verdade.  São as pessoas que importam. É quem está com você. É quem você encontra. É quem você é. Eu não tô dizendo que escolher um destino não é legal. Há quem goste disso também. É só que com o tempo o destino acabou sendo o menos importante pra mim. Eu só gosto de ir e ver o que vai ser. As pessoas que vou encontrar geram mais expectativa em mim do que os lugares. 

Comecei a ver que o bom de viajar são os encontros.. É o encontro com você. O encontro com aqueles que já nos são conhecidos e, principalmente, com quem nos é desconhecido. A possibilidade de encontrar as novas histórias é o que tem me movido. É legal ver uma paisagem massa, visitar um prédio histórico, uma restaurante de comida regional.  Mas e as pessoas? E o que a gente tá sentindo? E as histórias?

Nunca me convenci de que a gente só aprende as coisas lendo os guias de turismo, as placas, as coisas no wikipédia. A gente também aprende sobre um lugar conhecendo as pessoas, compartilhando momentos. Os melhores e os piores. É isso que tem me feito amadurecer, entender que não importa onde, o mais legal sempre vai ser o que eu aprendi com as pessoas. É isso que me define. É isso que me torna quem eu sou: um pedacinho de cada um que cruzou esse caminho.  

Eu lembro com carinho sempre que penso em todas as pessoas que estiveram no meu caminho.  Que querido aquele casal e a sogra em Jericoacoara, em 2013, que nos chamaram pra tomar banho na casa deles só pra que eu não saísse da praia e entrasse num avião e esperasse 3h30 pra tomar banho novamente. Sempre abro um sorriso de felicidade quando vejo suas viagens no facebook. Lembro do tio de um colega que não nos deixou ficar em um lugar horrível em Brasília e ofereceu a casa dele pra gente. Desculpa pelo banheiro vomitado, tio. Foram dias de muita conversa e aprendizado, tio do colega.<3

Lembro com uma saudade no peito dos dias no Rio na casa do Maurício que é meu irmão, tem uma mãe ótima e um irmão que cresceu durante esses anos de amizade a ponto de já conversar comigo sobre política no nosso último encontro. Aquele nosso jogo do mengão tá nas minhas melhores memórias. Tem a Sayaka que tava comigo na minha primeira viagem e me fez ir com ela até São Conrado pra ela pular de umas pedras e fazer a radical. A amizade só ficou mais forte depois daquelas duas semanas. (inclusive, saudades sapatão <3)

Tem aquele monte de gente que eu conheci viajando a trabalho e que vira e mexe a gente tem uma troca massa. Aqueles dias no mato, no rio, no interior sempre renderam os maiores aprendizados.

Aquele natal de 2015 na Califórnia com a Nath e o Rafa foi bom pra gente e agora as histórias são sempre cheias de brilho nos olhos de felicidade. Teve antes também aquelas duas pessoas ótimas em Los Angeles, em 2014, que até hoje estão na minha timeline e sempre mandam um “amei” em algo. Já teve São Paulo duas vezes esse ano e sou só amor por aquele apê na Vila Mariana que me faz querer enfrentar o caos dessa cidade só pra ficar ali rindo. Teve o Rio com a Nena e os milhares de chopps (pfvr, amo um chopp olhando o mar) em um fim de semana. O que falar de Curitiba?!  Aquele banho de mar em Matinhos com aquela super lua tá na minha linha do tempo como um dos dias preferidos. :p

Foi viajando que eu descobri que o mundo é, como diz Galeano, “um montão de gente, um mar de fogueirinhas” e “cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras”. No fim, viajar, pra mim, é só uma desculpa que eu arranjo pra ir atrás dos conhecidos e matar a saudade ou só ir atrás dos desconhecidos e de mim mesma.

Tomei a liberdade ainda de parafrasear Vinícius e dizer que “viajar é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida” porque isso resume bem o que eu penso. Viajem mais! Encontrem-se! Encontrem pessoas especiais que vão estar ali por um dia, alguns dias, ou uma vida inteira. Quem se importa?! Criem laços efêmeros, laços eternos, laços. Permitam-se abraçar alguém que você nem sabe de onde veio, mas que tá ali, compartilhando uma cerveja, uma história, um quarto no hostel, algo com você. De resto, deixa que a vida se encarrega e o que vier é lucro.

Agora eu tô aqui, em Porto Alegre, nessa viagem que já tem sete meses e que todo dia coloca alguém no meu caminho. Todo dia é dia de colocar mais um pedacinho de alguém em mim pra enfrentar a jornada que ainda vai vir. É tanta gente, tantos momentos, tantas trocas que também me fortalece, me ensina. Aliás, fiquem à vontade pra chegar! Cheguem, fiquem algumas horas, alguns dias,  alguns anos. Mas cheguem, me encontrem que eu encontro vocês. <3

 

O mundo – Eduardo Galeano <3

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.

Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado,lá do alto,a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.

O mundo é isso – revelou – Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.

Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existem gente de fogo sereno,que nem percebe o vento,e gente de fogo louco,que enche o ar de chispas. Alguns fogos,fogos bobos,não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.